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TEXTOS EM PORTUGUÊS

 

JUAN DOMINGO ARGÜELLES

( México )

 

Juan Domingo Argüelles nasceu em Chetumal, Quintana Roo. Estudou Letras Hispânicas na UNAM. É ensaísta, crítico literário e editor. Dirige IBERO. Revista da Universidad Iberoamericana e é colunista em vários periódicos. Com Océano publicou Você que lê (2006), Antimanual para leitores e promotores de livros e leitura (2008), A carta morta (2010), Escrevendo e lendo com crianças, adolescentes e jovens (2011) e Histórias de leituras e leitores (2013). Também é responsável pelos livros antológicos Dois séculos de poesia mexicana (2001 e 2009),Antologia geral da poesia mexicana. Dos tempos pré-hispânicos aos nossos dias (2012), Poesia do México atual. Da segunda metade do século XX até nossos dias (2014) e Breve antologia da poesia mexicana atrevida, lasciva, satírica e burlesca (2014).

 

Traduções ao Português

por ANTONIO MIRANDA

 

       A PALAVRA APRENDIDA

O que o homem recorda no fim da vida
é do menino que foi, absorto no assombro.
O que pode ter sido sucesso em vida é algo que já esqueceu
ou que não interessa recordar. O que vale realmente
de tudo que viveu é a alegria efêmera, o prazer mais fugaz, 
a palavra apreendida para o nomear as coisas
pela primeira vez, o eco da voz que a pronuncia,
o sigilo do gato, a sombra de umas asas,
o primeiro aroma da flor de laranjeira e o canto
de algum pássaro sonoro nos ramos.
O que o homem recorda no final da vida
é apenas  aquele tesouro do que já não existe:
a inocência arrasada que, se fosse possível,
seria o único daquilo que pediria de volta.



REMORSO

Lá no fundo dos sonhos
o infeliz remorso
com suas asas de pássaro
lança uma brisa no inferno.
Um estilingue que tensionamos
lançou cantos sobre o canto,
arrebentou um olho, rompeu uma asa
e agitou plumas pelo ar.
Ao despertar prometemos
odiar a morte para sempre,
mas na ponta do ramo
do flamboyant mais verde e vermelho
está um grande pássaro amarelo
que lança um ruido com estridência.
Os trolls tensos e a pedra
buscam o ângulo perfeito;
depois não há nada, apenas o vento
que faz flutuar, interminável,
as leves chamas do inferno.


        DESTES EU FALO

 
Enquanto os buitres traçam círculos
arredor do sol, como planetas,
os poetinhas com seus versos
romanzas ternas encompassam;
buscam o mais elaborado dos silêncios
e ordenam suas tripas que não gemem;
os buitres não gostariam
de comer carne tão débil,
tão desgostosa como gesso,
tão pouca coisa como um osso
com uma pele seca e sem brilho,
mas não tem nada sob o céu
para levar uma mordidela
senão estas pobres infelizes
que gemem, mordem, desgarram-se
mas não afrouxam sua gravatas.

*

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Página publicada em maio de 2023


 


 

 

 
 
 
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